O SER POETA
O que meus versos querem dizer
no discurso tenuoso não cabe
e se o descrever é pra saber
o que ainda sinuosa não sabe.
Uma delicada e perfeita flor
um cheiro que encaixa e relume...
Como dizer que este tal sabor
não mata-me é seu perfume?
Como enfim não traduzir
na sensatez audaz do ouvido
o que seus lábios vem produzir
e diz-me que não tem sentido?
A linguagem se dispõe
em milhares de tons e nomes
mas o gosto que a sua propõe
só as conhecem se as comes.
Sua pele invadindo-te inteiro
papilas salivando de prazer
faça-me seu amor primeiro
nos versos do poeta o querer.
E neste versejar, o poeta
tenta dizer o impossível
de trechos em vinheta
simplesmente sensível.
Subverte a sintaxe em tom
densidade ousada na fala,
jeitinho manhoso em som
chegando em mim, cala...
O que o poeta faz com amor
mais do que mencioná-la
ele a torna real em total louvor
amada e toda iluminada.