QUEM ERA O MOÇO?
Estavam todos os parentes de Eduardo em seu velório. A viúva chorava copiosamente, pois ele teve morte súbita.
Sempre fora um ótimo marido, pai dedicado. Ninguém tinha nada de mal para falar a respeito dele.
Era por volta das oito horas da manhã, quando entrou na capela mortuária uma figura intrigante. Adentrou quieto, sem tirar os olhos do finado. Nada disse. Chegou-se à cabeceira do caixão e começou a chorar copiosamente.
Os familiares do defunto, olharam-se perplexos, pois notoriamente, aquele homem era um homossexual.
Ou, ao menos, assim pensaram os circunstâncias. Afinal, seus trejeitos efeminados não eram disfarçados e, ao contrário, saltavam aos olhos da audiência perplexa.
Não demorou a que rumores e burburinho se espalhassem pelos cantos, em pequenos grupos formados. O tema usual de qualquer velório, que seria a vida ilibada de quem passara desta para melhor, foi substituído rapidamente por especulações sobre quais seriam os vínculos em vida que foram mantidos com aquela delicada figura que ainda desmanchava-se em lágrimas sobre o caixão.
Depois de alguns instantes, quando a perplexidade já se transmutara em latente curiosidade geral, alguém, enfim, resolveu investigar do que se tratava. Coube a Paulo - irmão mais novo do falecido - aproximar-se do "moço" para tentar arrancar-lhe alguma informação.
Aquele rapaz enxugou os olhos, controlou os soluços, e disse que era conhecido do finado.
Paulo não se deu por vencido, aquela não era a resposta que queria ouvir. Insistiu, indagando que ele estava muito abalado, devia ser uma ligação muito forte. Mais que uma simples amizade. O rapaz olhou em volta e percebeu que todos os olhares estavam voltados para ele. Mas manteve-se impassível.
Despediu-se e ia saindo do velório, uma das vizinhas, daquelas que bem intrometidas, falou bem alto para que ele ouvisse:
_ Descaramento esse... Vir no enterro do amante para constranger a família!
_ Amante?! Minha senhora, Eduardo tinha muito orgulho de mim. Ele era meu pai!...
FIM...