UM SIMPLES ABRAÇO
Não, não eram aqueles os abraços pelos quais ansiava e deles carecia. Recebia, dava e retribuía todos os convencionais abraços, os de chegada e despedida, os casuais ao encontrar pessoas amigas na rua, os de aniversário, Natal, Ano Novo, muitas das vezes acompanhados de frios beijinhos no ar. Pensava que tais abraços eram, em geral, desprovidos de real afeto e se restringem a cumprir protocolares relações sociais e familiares, ausentes de significado mais profundo.
Era uma pessoa comum, sem exageros de sensibilidade. Bem, digamos, "comum" até certo ponto, pois sentia-se carente "daquele" abraço súbito, inesperado, em meio a uma conversação, um repentino gesto, carinho a chegar como doce brisa a passar suavemente. Este lhe seria o real abraço, de pura e verdadeira ternura, escapado do coração, despido de qualquer intenção além da incontida e real manifestação de afeto.
Assim refletia, quando olhou para seu cão deitado ao lado, cujos olhos brilharam, e, sem quê nem porquê, abanou o rabo, aquele movimento agitado de alegria e carinho tão peculiar a tal animal. Uma inesperada manifestação afetiva, aquela tão desejada, com a qual sonhava. E a alegria preencheu-lhe o coração... Sentiu-se, por alguns instantes, completamente feliz.
Fim...
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