UM MOMENTO SINGULAR
O barulho constante dos trens passando era como uma trilha sonora para aquela tarde chuvosa. As gotas finas escorriam pelas vidraças da estação, desenhando caminhos que se perdiam no vidro embaçado. As pessoas andavam apressadas, imersas em suas rotinas, mas havia algo no ar que me fez parar, como se o tempo estivesse prestes a revelar um momento singular.
Foi quando vi os dois. Um casal de idosos, de mãos dadas, caminhando lentamente até o banco de madeira no canto da plataforma. Seus olhares trocavam sorrisos cúmplices e o mundo ao redor parecia diminuir em intensidade. Sentaram-se com calma, como quem já conhece o ritmo da vida, e começaram a conversar baixinho, suas vozes se misturando ao som do trem que chegava.
Não era um encontro qualquer. A forma como ele ajeitou o casaco sobre os ombros dela, como ela segurava sua mão com delicadeza, mostrava que aquele momento era especial. Talvez um reencontro, talvez o último de muitos, mas carregava a força de décadas de amor, de cumplicidade.
Enquanto os trens iam e vinham, eu permanecia ali, observando. A pressa da vida ao meu redor não tocava aquele instante. Quando o trem deles chegou, levantaram-se com a mesma calma, e ela, com um gesto carinhoso, ajeitou a gravata do companheiro antes de subirem a bordo. Desapareceram pela porta, mas o impacto daquele breve momento ficou marcado em mim, como uma fotografia guardada no álbum da alma.
Às vezes, a beleza da vida está justamente nesses encontros que parecem passar despercebidos, mas que carregam uma eternidade em cada gesto.